A comunicação é uma habilidade clínica parte 1
As habilidades de comunicação descritas a seguir são essenciais para o desenvolvimento de uma relação de colaboração...
Número da edição 1 Comunicação
Publicado 04/01/2021
Disponível em Français , Deutsch , Italiano , Română , Español e English
Vamos nos lembrar rapidamente da ciência por trás da comunicação e ver o que a neurociência tem a dizer sobre o assunto.
Há uma série de estímulos externos e internos que podem influenciar fortemente o modo como nos comunicamos. A qualidade de nossa comunicação depende da conexão que criamos entre os estímulos e a nossa resposta.
A dopamina, a ocitocina e a serotonina são controladas por algo que todos os mamíferos possuem em comum: o Sistema Límbico. Esse sistema inclui estruturas essenciais para a comunicação com o ambiente: o hipotálamo (especializado na coordenação de impulsos e motivações básicas), o hipocampo (especializado na memória) e a amígdala (especializada no aprendizado emocional e na resposta rápida a estímulos) (Figura 10). O sistema límbico é circundado por um grande córtex cerebral (C), área dedicada ao pensamento lógico e racional.
Nosso sistema límbico responde automaticamente a certos estímulos (um sorriso, um olhar de desaprovação, um cheiro ruim, um cão mostrando os caninos, um gato com as orelhas para trás e os pelos eriçados, etc.). Existe uma área do córtex cerebral chamada córtex pré-frontal, encarregada de processar os sentimentos gerados a partir de um estímulo e decidir se deve se aproximar ou fugir. Para levar a comunicação com os nossos clientes para outro nível ou patamar, precisamos entender que o sistema límbico e o córtex pré-frontal andam de mãos dadas (ou seja, trabalham juntos). Embora o córtex pré-frontal possa gerar alternativas a uma resposta imediata do sistema límbico, sua capacidade de fazer isso é muito menor do que imaginamos (1). Em outras palavras, somos muito mais prisioneiros de nossos próprios impulsos instintivos do que pensamos (1).
O segredo para melhorar a comunicação com nossos clientes consiste em apelar não só para o lado racional, mas também para as emoções. Se conseguirmos fazer com que nossos cérebros recebam doses de dopamina, ocitocina e serotonina durante as interações com nossos clientes, nossa comunicação começará com o pé direito, ou seja, terá começado da melhor forma possível (Figura 11).
Como ter certeza de começar com o pé direito?
A liberação de ocitocina é estimulada quando fazemos com que nossos clientes se sintam amados, aceitos e apreciados.
Exemplos:
• Com um aperto de mão firme.
• Com um leve toque no ombro para parabenizá-los por algo.
• Ao acariciar o pet e olhar nos olhos dos clientes quando conversamos com eles.
• Quando honramos os nossos compromissos, quando cumprimos com a nossa palavra, quando há consistência (coerência) entre o que dizemos e o que fazemos.
Essa necessidade de conexão é igual para todos: clientes, médicos-veterinários e demais funcionários. Como regra geral, trate todos como você gostaria de ser tratado.
Essa necessidade de se sentir desejado, aceito e apreciado se aplica a todos nós, não só aos nossos clientes.
Estimulamos a liberação de dopamina quando nossos clientes se sentem recompensados ou valorizados em consequência de seu relacionamento conosco.
Por exemplo, quando os parabenizamos:
• pela melhora da otite de seu cão;
• pelo crescimento saudável de seu filhote;
• pela excelente forma como eles estão lidando com seu gato.
Neurociência aplicada à medicina veterinária
Abaixo estão dois exemplos de como o cuidado com as emoções pode estabelecer uma boa base para a comunicação.
Uma experiência pouco chamativa
Cliente |
A cliente fala "Bom dia", olhando para o balcão, onde há uma recepcionista no telefone que não responde nem parece prestar atenção. |
Recepcionista |
...depois de alguns minutos no telefone, a recepcionista desliga. Ela parece estressada. "Você marcou consulta?" |
Cliente |
"Sim, claro. É a terceira vez que venho com Toby." |
Recepcionista |
"Sente-se, por favor, o doutor atenderá vocês assim que ele terminar sua consulta atual." |
Cliente |
"Ok, obrigada." Ela se senta, visivelmente com um humor muito pior do que quando entrou. |
Veterinário |
"Próximo?!", o veterinário pergunta em voz alta sem parecer arrependido por ter feito sua cliente esperar 25 minutos. |
Cliente |
Ela se dirige para a sala de consulta, mas seu estado emocional já se encontra muito reativo. |
Uma experiência melhorada
Cliente |
A cliente fala "Bom dia", olhando para o balcão, onde há uma recepcionista no telefone que imediatamente sorri para ela, fazendo um gesto de desculpas e dando a entender que ela será atendida em seguida. |
Recepcionista |
“Bom dia, Sra. Sanchez. Desculpe, eu estava atendendo uma ligação exatamente quando a sra. entrou. Fico feliz em vê-la. Como está o Toby? A recepcionista havia dedicado um tempo para olhar na agenda das consultas marcadas para saber os nomes dos clientes e pacientes. |
Cliente |
"O Toby não está muito bem. Ele está tendo bastante dificuldade para se recuperar da otite. Hoje é a nossa terceira consulta. ” |
Recepcionista |
“Bom, espero que ele melhore logo. Por gentileza, sente-se. O doutor ficará feliz em saber que vocês já estão aqui, fazendo um gesto de modo a incluir Toby e seu tutor. Vejo que Toby está ofegante, a sra. quer que eu traga um pouco de água para ele? |
Cliente |
"Ah, não precisa, muito obrigada. Viemos andando depressa até aqui e, por isso, ele está um pouco cansado. Esperamos aqui sem problemas." |
Veterinário |
“Fico feliz em vê-la, sra. Sanchez. Sinto muito por ter feito a sra. esperar. Espero não ter causado um grande transtorno. Toby, pronto para a consulta? Ele pergunta com um sorriso enquanto acaricia Toby com delicadeza.” |
Cliente |
“Toby nunca está pronto para entrar, embora vocês sempre nos tratem tão bem aqui. Ela diz isso rindo enquanto acompanha o veterinário para a sala de consulta...” |
(Os gestos e comentários que desencadearam a liberação de ocitocina, dopamina e serotonina do Sistema Límbico da sra. Sanchez estão destacados em vermelho)
Miguel Ángel Díaz
Miguel received a degree in Veterinary Science in 1990. After working at several clinics he opened his own clinic in 1992 Leia mais
Iván López Vásquez
Iván comes from a family of veterinarians; his father and older brother share the same passion. He obtained his degree from the Universidad de Concepción Leia mais
Cindy Adams
Cindy Adams é professora do Departamento de Ciências Clínicas e Diagnósticas Veterinárias na Faculdade de Medicina Veterinária da University of Calgary, onde ela desenvolveu e implementou o Clinical Communication Program (Programa de Comunicação Clínica) da nova Faculdade de Medicina Veterinária de Calgary. Leia mais
Antje Blättner
A Dra. Blättner estudou em Berlim e Munique e, depois de se formar em 1988, ela montou e administrou sua própria clínica de pequenos animais. Leia mais
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