A comunicação é uma habilidade clínica parte 1
As habilidades de comunicação descritas a seguir são essenciais para o desenvolvimento de uma relação de colaboração...
Número da edição 1 Comunicação
Publicado 28/01/2021
Disponível em Français , Deutsch , Italiano , Română , Español e English
Fazer perguntas abertas aos tutores, especialmente no início de uma consulta, é extremamente importante para melhorar não apenas a comunicação em geral, mas também para garantir que o médico-veterinário conheça a história do animal de forma eficaz.
As perguntas abertas são projetadas para introduzir uma área de investigação sem moldar o conteúdo.
Ao refletirmos sobre o início da interação entre o médico-veterinário e o cliente, é importante considerar três objetivos. Em primeiro lugar, queremos saber o que o cliente deseja falar, depois o médico-veterinário acrescenta o que ele quer dizer e, posteriormente, o restante da consulta é planejado com o cliente. O segundo objetivo consiste em estabelecer uma relação inicial e garantir que o cliente se sinta como parte do processo daqui para frente. O terceiro objetivo é avaliar o desempenho do cliente e do paciente, dadas as circunstâncias. Você pode estar se perguntando qual a melhor forma de atender aos três objetivos, considerando a necessidade de ser eficiente. Até o momento, pesquisas revelaram que os médicos-veterinários tendem a evitar perguntas abertas no início da consulta e preferem uma série de perguntas fechadas:
• "Ele(a) está comendo?"
• "Ele(a) está bebendo?"
• “As fezes e a urina estão normais?”
• “O sr./a sra. deu algum remédio a ele(a)?”
• “O sr./a sra. o(a) leva para passear?”
• “O sr./a sra. tomou alguma decisão?”
As pesquisas também indicaram que, em média, os médicos-veterinários interrompem seus clientes quando já estão conversando há 15,3 segundos 1.
Iván López Vásquez
As perguntas fechadas são utilizadas quando se deseja obter uma resposta específica e, muitas vezes, de uma única palavra, como sim ou não. Os clientes costumam responder com uma ou duas palavras sem dar mais detalhes. O médico-veterinário formula perguntas fechadas, uma atrás da outra, para manter sua mente afastada das respostas do cliente, enquanto conduz o raciocínio diagnóstico e direciona a conversa para uma determinada área. Isso pode afetar a escuta, a obtenção de informações importantes e o início de uma relação com o cliente.
Segundo estudos realizados sobre comunicação, os médicos-veterinários geralmente formulam 13 perguntas fechadas e 2 abertas em cada consulta (Figura 3). Em 75 das 300 consultas, o que representa 25%, o médico-veterinário não fez nenhuma pergunta aberta 3. Uma abordagem totalmente baseada em perguntas fechadas também pode aumentar as chances do surgimento de “preocupações ocultas” ao final da consulta.
A probabilidade de preocupações subsequentes é 4 vezes maior quando o cliente não é convidado ou autorizado a contar a sua história, sem deixá-lo explicar ao médico-veterinário o motivo da consulta 1. Esse fato tem um grande impacto na duração das consultas. Embora não exista um padrão quanto ao número exato de perguntas abertas e fechadas que o médico-veterinário deve fazer, é recomendável estruturar as consultas, seguindo um modelo de funil, em que as perguntas abertas são formuladas no início e as perguntas fechadas, mais diretas e específicas, são feitas no final para esclarecer os detalhes ou coletar informações não fornecidas pelo questionamento aberto inicial.
Considerando que 85% dos diagnósticos são formulados a partir da obtenção do histórico 4, vale a pena avaliar a quantidade de perguntas abertas e fechadas que são feitas em uma determinada consulta e trabalhar de modo a canalizar a conversa, começando com perguntas abertas amplas e, depois, fazendo perguntas fechadas ou esclarecedoras (Figura 4).
No início da entrevista com o cliente, é importante fazer perguntas abertas, tais como:
• “Em que posso ajudá-lo(a)?”
• “Diga-me o que trouxe o sr./a sra. e a Molly aqui?”
• “Sobre o que o sr./a sra. gostaria de falar hoje?”
Com esse tipo de perguntas, o cliente pode comentar em termos gerais como está seu pet, embora seja possível que o verdadeiro problema que os levou à clínica não seja descoberto. Por outro lado, pode surgir uma conversa útil e proveitosa com o cliente quando ele compartilha algum fato interessante sobre o pet; por exemplo, o tutor pode contar que seu gato dorme agora ao pé da escada e acreditar que isso esteja acontecendo porque o lugar onde ele dormia antes era muito quente. Na verdade, essa mudança de comportamento pode ser atribuída à temperatura, mas também a outras causas. Graças a perguntas abertas, o médico-veterinário pode compreender melhor o que o cliente está pensando, o que é essencial para o desenvolvimento de uma boa relação entre eles.
Outra opção é fazer uma pergunta aberta, mas direcioná-la de forma mais específica e direta ao paciente.
Por exemplo:
• “Diga-me que problemas Ryder têm tido desde a última vez que ele esteve aqui?”
• “Como posso ajudar o sr./a sra. e o Paisley?”
• “Recebi uma carta de encaminhamento do médico-veterinário sobre o que está acontecendo com Shadow, mas por gentileza me conte primeiro quais são os problemas do seu ponto de vista.”
As perguntas abertas são projetadas para introduzir o tópico a ser investigado, sem limitar a forma do conteúdo. Essas perguntas direcionam o cliente para uma determinada área, mas permitem a ele uma maior variedade de respostas, transmitindo a mensagem de que a elaboração de suas respostas é importante e bem-vinda. É fundamental levar em conta que a duração média da fala de um cliente é de 150 segundos caso não seja interrompido 1.
Miguel Ángel Díaz
Não existem perguntas abertas corretas ou incorretas; as perguntas devem ser formuladas de acordo com a situação. No entanto, é necessário ter uma maior consciência e refletir cuidadosamente sobre como iniciamos cada consulta, a fim de permitir que o cliente conte a sua história antes de passar para perguntas fechadas mais diretas.
Dysart LMA, Coe JB, Adams CL. Analysis of solicitation of client concerns in companion animal practice. JAVMA 2011;238(12):1609-1615.
Bonvicini K. Bayer Animal Health Communication Project. Getting the Story: Understanding client and patient. New Haven (CT): Institute for Healthcare Communication, 2003.
Shaw JR, Adams CL, Bonnett BN, Larson S, Roter DL. Use of the Roter interaction analysis system to analyze veterinarian-client-patient communication in companion Animal practice. JAVMA 2004;233(10):1576-1586.
Henderson M, Tierney L, Smetana G. The Patient History: An Evidence-Based Approach to Differential Diagnosis, 2e. Mc-Graw Hill, New York 2012.
Miguel Ángel Díaz
Miguel received a degree in Veterinary Science in 1990. After working at several clinics he opened his own clinic in 1992 Leia mais
Iván López Vásquez
Iván comes from a family of veterinarians; his father and older brother share the same passion. He obtained his degree from the Universidad de Concepción Leia mais
Cindy Adams
Cindy Adams é professora do Departamento de Ciências Clínicas e Diagnósticas Veterinárias na Faculdade de Medicina Veterinária da University of Calgary, onde ela desenvolveu e implementou o Clinical Communication Program (Programa de Comunicação Clínica) da nova Faculdade de Medicina Veterinária de Calgary. Leia mais
Antje Blättner
A Dra. Blättner estudou em Berlim e Munique e, depois de se formar em 1988, ela montou e administrou sua própria clínica de pequenos animais. Leia mais
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