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Distúrbios oftalmológicos em gatos filhotes e adultos jovens

Publicado 04/01/2021

Escrito por Thomas P. Large e Ben T. Blacklock

Disponível em Français , Deutsch , Italiano , Español e English

Os gatos filhotes e adultos jovens são frequentemente levados às clínicas veterinárias por conta de “problemas nos olhos”. Neste artigo, Thomas Large e Ben Blacklock fornecem uma visão geral de alguns dos distúrbios oculares mais comuns — e não tão comuns — com os quais podemos nos deparar

Distúrbios oftalmológicos em gatos filhotes e adultos jovens

Pontos-chaves

Os distúrbios oculares congênitos muitas vezes podem se manifestar sob a forma de múltiplas alterações clínicas; portanto, é necessária a realização de exame oftalmológico completo e detalhado em todos os casos. 


A identificação, incluindo a raça e a idade, é particularmente importante na elaboração da lista de diagnósticos diferenciais, pois permite a inclusão de anomalias congênitas e hereditárias como possíveis causas de doenças oculares. 


O teste de PCR para a detecção de causas infecciosas de distúrbios oculares sempre deve ser interpretado à luz da apresentação clínica (i. e., levando em consideração o quadro clínico do paciente), a fim de evitar a superinterpretação dos resultados,


O diagnóstico de causas infecciosas de conjuntivite pode não ser uma tarefa fácil e, como parte do plano diagnóstico e terapêutico, talvez seja necessário realizar um tratamento para avaliar a resposta ao mesmo.


Introdução


Existe uma ampla variedade de distúrbios oftalmológicos que podem afetar gatos filhotes e adultos jovens. O presente artigo faz uma revisão das apresentações clínicas comuns e não tão comuns de doenças oculares congênitas e adquiridas. Tais apresentações podem ser úteis para orientar o diagnóstico e o tratamento. Os distúrbios foram subdivididos de acordo com as regiões anatômicas envolvidas (Tabela 1), mas a sobreposição é inevitável, uma vez que algumas condições afetam várias estruturas oculares. 

Tabela 1. Diferentes condições oftalmológicas em filhotes felinos.

Globo ou bulbo ocular

  • Microftalmia

Tecidos perioculares

  • Coloboma palpebral
  • Entrópio
  • Prolapso da glândula da membrana nictitante
  • Epífora

Conjuntiva

  • Conjuntivite infecciosa
  • Oftalmia neonatal

Doença corneana

  • Dermoides

Doença uveal

  • Persistência das membranas pupilares
  • Cistos uveais
  • Doença do cristalino

Doença retiniana

  • Displasia da retina

Globo ou bulbo ocular

Microftalmia

A microftalmia é um defeito congênito no desenvolvimento completo do globo ou bulbo ocular e pode se apresentar como uma redução uni ou bilateral no tamanho dessa estrutura, acompanhada de outros sinais como enoftalmia, protrusão da terceira pálpebra e entrópio (1,2). Em alguns relatos de casos clínicos, observou-se que a microftalmia pode ocorrer juntamente com outras anomalias oculares congênitas, como coloboma das pálpebras, dermoides da córnea, coloboma e/ou hipoplasia da coroide (1,2). Se ocorrer doença secundária da córnea ou qualquer desconforto resultante de anormalidades concomitantes, talvez seja necessária a enucleação do(s) olho(s) acometido(s) (2).

Tecidos perioculares


Coloboma palpebral

Os colobomas das pálpebras consistem em uma malformação congênita dessas estruturas oculares, cuja causa subjacente ainda é desconhecida. Esse distúrbio pode ser uni ou bilateral e costuma envolver as margens temporais das pálpebras superiores. A gravidade dos defeitos palpebrais pode variar em termos de tamanho, desde pequenos entalhes ou chanfraduras até a completa ausência de partes maiores do tecido palpebral (3). Há relatos de que os colobomas palpebrais estejam frequentemente associados a outras alterações oculares dos segmentos anterior e posterior — como persistência das membranas pupilares, displasia da retina e ausência do tapete (tapetum) — como parte de uma “síndrome colobomatosa” (1). Os sinais clínicos relacionados com os colobomas palpebrais podem variar, dependendo da gravidade do defeito. De modo geral, os sinais clínicos incluem inflamação, úlcera e irritação da córnea, secundárias à exposição dessa estrutura ocular (em virtude do fechamento ineficiente das pálpebras), bem como triquíase (que se refere ao mau posicionamento dos cílios em direção à córnea) (1,3). A Figura 1 ilustra um exemplo de coloboma palpebral. 
 

Figura 1. Coloboma palpebral observado em gato jovem, afetando a margem temporal da pálpebra superior. Note a presença de triquíase, epífora e secreção mucoide. © Ben Blacklock
Figura 2. O mesmo gato da Figura 1 após correção cirúrgica, utilizando uma comissura labial para a transposição palpebral. A cirurgia corrigiu a triquíase e restabeleceu a funcionalidade da margem palpebral. © Ben Blacklock
As opções terapêuticas para colobomas palpebrais são basicamente cirúrgicas e visam restaurar o máximo possível a funcionalidade da fissura palpebral, além de prevenir a ocorrência de triquíase e a irritação contínua da córnea. 

Em defeitos brandos (leves) com inversão palpebral, o procedimento-padrão de Hotz-Celsus é geralmente suficiente para evitar maior irritação corneana associada à triquíase. Em defeitos maiores, existem diversas técnicas cirúrgicas disponíveis, envolvendo a transposição do tecido periocular adjacente para reconstruir a margem palpebral. A técnica de Roberts e Bistner, por exemplo, consiste na dissecção cirúrgica de um pedículo miocutâneo e na transposição desse pedículo do aspecto lateral da pálpebra inferior até o defeito lateral da pálpebra superior para criar uma nova margem palpebral (4). Outro procedimento comprovadamente bem-sucedido no tratamento de coloboma palpebral em gatos baseia-se na criação de uma comissura labial para a transposição palpebral, em que o lábio superior e inferior é submetido à dissecção cirúrgica com um retalho (flap) cutâneo e rotacionado para criar um novo canto lateral (5). Um exemplo disso pode ser visto na Figura 2. Em casos de exposição corneana ou triquíase, pode ser útil o uso de lubrificantes oculares para proteger a córnea antes de executar a correção cirúrgica.
 

Entrópio

O entrópio é uma inversão indevida das pálpebras superior (ou, mais comumente, inferior) que pode causar irritação crônica da córnea, resultando em edema, úlcera, pigmentação e vascularização dessa estrutura ocular. A ocorrência de entrópio primário é menos frequente nos gatos que nos cães e uma incidência mais alta foi descrita em raças braquicefálicas como a Persa (3)

 

 

Thomas P. Large

A infecção pelo herpes-vírus felino, que é muito comum, caracteriza-se por episódios recorrentes de rinotraqueíte, conjuntivite, úlcera de córnea e ceratite; quase todos os gatos adultos e filhotes serão expostos ao herpes-vírus felino em algum momento de suas vidas,

Thomas P. Large

 O entrópio também pode ocorrer secundariamente a blefarospasmo, caso em que a inversão das pálpebras pode se tornar permanente (3). Em filhotes felinos, portanto, a etiologia do entrópio pode ser considerada primária ou secundária se houver histórico de dor ou inflamação ocular. Na presença de doença corneana secundária, há necessidade de tratamento cirúrgico para o entrópio. Embora os casos brandos (leves) possam não necessitar de correção cirúrgica, seria razoável proceder ao monitoramento regular do paciente para detectar a possível presença de sinais de doença corneana secundária. O procedimento de Hotz-Celsus consiste na técnica cirúrgica preferida (6) e os resultados pós-operatórios podem ser vistos na Figura 3. Em uma revisão recente conduzida a partir da avaliação de 124 gatos submetidos a tratamento cirúrgico para o entrópio, verificou-se que a taxa de êxito desse procedimento, combinado com o fechamento do canto lateral, é de 99,21% (6). No mesmo estudo, constatou-se que, somente com a técnica de Hotz-Celsus, é possível corrigir o entrópio da pálpebra inferior; em gatos mais idosos, no entanto, o fechamento do canto lateral pode ajudar a prevenir recidivas (6)

Figura 3. Fotos de antes (imagem de cima) e depois (imagem de baixo) da cirurgia de gato com entrópio da pálpebra inferior, corrigido pelo procedimento de Hotz-Celsus. Observe a presença de triquíase e edema corneano secundário à irritação crônica observada no pré-operatório. © Ben Blacklock

Prolapso da glândula da membrana nictitante

O prolapso da glândula da membrana nictitante foi relatado em várias raças, incluindo Birmanês, Persa e Doméstico de Pelo Curto. Embora o prolapso não seja uma condição estritamente congênita, a idade de apresentação varia, podendo incluir gatos filhotes e adultos de até 6 anos de idade (3). Em três casos individuais das raças mencionadas anteriormente, foi demonstrado que a reposição da glândula da membrana nictitante pela técnica da bolsa conjuntival de Morgan seja eficaz e sem recidivas (7).

Epífora

Nos gatos de raças braquicefálicas, o ducto nasolacrimal segue um trajeto muito mais tortuoso quando comparados aos de raças meso e dolicocefálicas, o que pode levar à obstrução da drenagem normal das lágrimas (8,9). Essa malformação anatômica pode resultar em epífora persistente; no entanto, antes de assumir alguma causa estrutural, devem ser descartadas outras causas patológicas de epífora, como doenças inflamatórias, infecciosas ou traumáticas. Nos gatos braquicefálicos, pode-se observar a presença de manchas persistentes ocasionadas pelo lacrimejamento excessivo em torno do canto medial do olho; nesse caso, um conselho prático que pode ser dado ao tutor é limpar com frequência o canto medial do olho e as dobras cutâneas do nariz para evitar macerações secundárias da pele periocular. 

 

Conjuntiva

Conjuntivite infecciosa

A conjuntivite é um distúrbio muito comum em gatos jovens — na verdade, trata-se de uma das apresentações mais frequentes de doenças oftalmológicas — e deve ser abordada de uma maneira lógica, levando em consideração os diagnósticos diferenciais mais habituais. Em muitos casos, podem ser observados os sinais de edema conjuntival (conhecido como quemose), blefarospasmo e secreção ocular mucopurulenta. Embora o tratamento com antimicrobianos tópicos de amplo espectro possa não ser inadequado a princípio, determinadas doenças podem muitas vezes persistir e exigir um tratamento mais específico, conforme descrito adiante. 

Em gatos filhotes e adultos jovens, existem várias causas de conjuntivite infecciosa, incluindo infecções por herpes-vírus felino, Chlamydophila felis, calicivírus, Mycoplasma e outras infecções bacterianas.

Herpes-vírus felino tipo 1

Figura 4. Ceratite herpética em gato Doméstico de Pelo Curto de 5 meses de vida, com úlcera dendrítica positiva à fluoresceína. © Taken with permission from Feline Ophthalmology — The Manual

O herpes-vírus felino tipo 1 caracteriza-se por episódios recorrentes de rinotraqueíte, conjuntivite, úlcera de córnea e ceratite. Grande parte (taxas de exposição relatadas de até 97%) dos gatos adultos e filhotes será exposta ao herpes-vírus felino em algum momento de suas vidas e infectada por aerossóis ou pelo contato direto com animais infectados (10). O herpes-vírus felino pode se disseminar ao longo das terminações do nervo trigêmeo e ficar alojado no gânglio trigêmeo, resultando em uma infecção latente em mais de 80% dos gatos infectados. Cerca de 50% desses gatos manifestarão “exacerbações” recrudescentes dos sinais clínicos, secundariamente a estresse, doenças concomitantes ou corticoterapia (10). A infecção inicial pode começar a partir de 8 semanas de vida e se manifestar com rinotraqueíte, conjuntivite, ceratite e úlceras puntiformes ou dendríticas (Figura 4) (10,11)

 

Figura 5. Quemose e úlcera dendrítica, observadas em infecção por herpes-vírus felino. Observe as finas áreas lineares de captação (absorção) da fluoresceína na porção central da córnea — alterações características da úlcera dendrítica. Tais linhas aparecem porque o corante segue o trajeto das terminações sensoriais do nervo trigêmeo. © Ben Blacklock

Um sinal peculiar que diferencia a infecção por herpes-vírus felino é o desenvolvimento de úlceras corneanas dendríticas que podem ser vistas como defeitos lineares e ramificados na córnea (12). As úlceras dendríticas geralmente podem ser detectadas com o uso do corante fluoresceína, conforme observado na Figura 5; lesões menores podem ser visualizadas com mais facilidade mediante a coloração da córnea com o Rosa Bengala (corante). Conforme a doença evolui, as úlceras dendríticas podem coalescer, formando áreas maiores de ulceração geográfica da córnea (12). Pode ocorrer o surgimento de simbléfaro (aderência da pálpebra ao globo ocular), uma vez que o tecido conjuntival ou corneano inflamado pode criar aderências locais; tais aderências, por sua vez, devem ser desfeitas com manipulação leve e delicada (sempre que forem observadas) para evitar a formação de aderências permanentes (3). A recrudescência do herpes-vírus felino frequentemente se manifesta com sinais clínicos semelhantes e mais brandos (leves) que os de uma infecção aguda, mas também pode evoluir para uma ceratite crônica do estroma corneano (10).

Para obter o diagnóstico, podem ser considerados testes como PCR e citologia conjuntival/corneana. Contudo, como a maioria dos gatos é exposta ao herpes-vírus felino, podem ocorrer resultados falso-positivos e falso-negativos na técnica de PCR. Por essa razão, é preciso ter cuidado ao se interpretar os resultados, devendo-se levar em conta tanto a apresentação clínica como o histórico do paciente (10).

A citologia da conjuntiva e da córnea pode ajudar a descartar outros distúrbios com apresentação semelhante, como a infecção por Chlamydophila felis. A resposta à terapia também pode ser considerada como uma diretriz para o diagnóstico e tratamento. Muitos casos brandos (leves) de recrudescência do herpes-vírus felino são autolimitantes e, nesses casos, o tratamento pode ser dispensável. Quando necessário, no entanto, recomenda-se a administração sistêmica de fanciclovir a uma dose de 90 mg/kg por via oral 2 vezes ao dia (13). A duração do tratamento pode variar, dependendo da resposta e, em geral, deve prosseguir por um período de tempo além da resolução dos sinais clínicos (13). Preparações antibióticas tópicas também podem ser usadas como tratamento adjuvante para possíveis infecções bacterianas secundárias (14).

 

Chlamydophila felis

A infecção pela bactéria intracelular Chlamydophila felis pode se manifestar com sinais clínicos de conjuntivite crônica e quemose uni ou bilaterais em gatos jovens (3). É transmitida por aerossóis ou pelo contato com o patógeno no ambiente. O diagnóstico pode ser alcançado com o uso de um kit comercial que utiliza dispositivos médicos especiais de amostragem1 ou mediante a obtenção de amostras conjuntivais através de swabs para subsequente exame citológico que pode revelar a presença de corpúsculos de inclusão nas células epiteliais (14). A técnica de PCR em swabs conjuntivais também pode ser um teste sensível para detectar o microrganismo Chlamydophila felis nos olhos infectados; no entanto, a sensibilidade diminui com a cronicidade e, portanto, pode ser um teste menos confiável para o diagnóstico de casos crônicos (15). Resultados negativos em testes como PCR e citologia não descartam totalmente a presença de Chlamydophila felis; por essa razão, a tomada das decisões terapêuticas pode ser feita apenas sob a suspeita clínica do quadro, com base na apresentação, nos sinais clínicos e no menor índice de suspeita de outras causas de conjuntivite (especialmente se nenhuma úlcera de córnea for observada). O tratamento consiste na administração sistêmica de doxiciclina por via oral a uma dose de 10 mg/kg por dia durante um período de, no mínimo, 28 dias (16). Note que é recomendável administrar a doxiciclina juntamente com alimentos ou pequeno volume de líquido sob a forma de bólus oral para reduzir o risco de estenoses esofágicas. Embora os sinais clínicos geralmente desapareçam após alguns dias, todo o curso do tratamento deve ser concluído.

1 p. ex., *Cytobrush® (Medscand®)

 

Ben T. Blacklock

Os colobomas das pálpebras são uma malformação congênita dessa estrutura ocular, de etiologia desconhecida. O distúrbio pode ser uni ou bilateral e costuma envolver as margens temporais das pálpebras superiores.

Ben T. Blacklock

Calicivírus

Por vezes, o calicivírus pode causar conjuntivite em gatos, mas está associado principalmente a doenças do trato respiratório anterior e estomatite (17). É transmitido pelo contato com animais infectados e com o ambiente. O diagnóstico pode ser feito com a técnica de PCR em swabs conjuntivais, embora os resultados positivos devam ser interpretados com cautela, pois isso pode acontecer em gatos portadores persistentemente infectados. A conjuntivite associada ao calicivírus tende a se resolver espontaneamente (3).

Oftalmia neonatal

 

Figura 6. Oftalmia neonatal em filhote felino de 3 semanas de vida. O anquilobléfaro* bilateral resultou em conjuntivite e ceratite graves que persistiram após a abertura das pálpebras. © Taken with permission from Feline Ophthalmology — The Manual

Oftalmia neonatal

A oftalmia neonatal é um termo usado para descrever uma conjuntivite grave no neonato felino. Se as pálpebras permanecerem fundidas 14 dias após o parto, geralmente se desenvolve um edema (inchaço) da órbita, em virtude do acúmulo de secreção mucopurulenta (Figura 6) (3,18). Pode ser necessária a abertura das pálpebras, seja por meio de manobra manual ou com incisão ao longo da margem palpebral para drenar a secreção mucopurulenta e permitir a aplicação de tratamento tópico com antibióticos.

Doença corneana

Dermoides

Figura 7. Dermoide conjuntival com tufo saliente de pelos, causando conjuntivite em gato Sagrado da Birmânia de 3 meses de vida. © Taken with permission from Feline Ophthalmology — The Manual

Os dermoides da córnea correspondem a uma anomalia congênita rara observada em filhotes felinos. Essa anomalia foi descrita nas raças Doméstico de Pelo Curto, Sagrado da Birmânia ou Birmano e Birmanês (19). Esses dermoides são caracterizados como massas de tecido cutâneo localizadas anormalmente na superfície ocular ou em estruturas estreitamente associadas. Sua ocorrência já foi relatada em vários locais, incluindo a região epibulbar, a córnea temporal lateral e a córnea dorsal (19-21). O exame histológico de dermoides oculares revelou que sua estrutura é semelhante à da pele, com uma camada epidérmica, outra camada subcuticular e uma camada dérmica, incluindo glândulas sebáceas e folículos pilosos. Os sinais clínicos associados aos dermoides podem incluir epífora, blefarospasmo, conjuntivite e blefarite por irritação das estruturas oculares envolvidas em contato com os cílios (Figura 7) (18)

Para remover o dermoide da córnea, há necessidade de tratamento cirúrgico. A técnica usada para extrair o tecido anormal do tecido normal subjacente é a ceratectomia superficial. O prognóstico após a cirurgia é bom, desde que todo tecido anormal seja removido.

 

Doença uveal

Persistência da membrana pupilar
Figura 8. Resquícios da membrana pupilar persistente, reunidos centralmente na câmara anterior. © Taken with permission from Feline Ophthalmology — The Manual

As membranas pupilares persistentes são um resquício embrionário da túnica vascular do cristalino (o aporte sanguíneo embrionário para o cristalino em desenvolvimento). No gato, as membranas pupilares persistentes podem ser uni ou bilaterais e sua aparência é semelhante a filamentos finos e pigmentados que se originam a partir do colarete da íris (a região intermediária da íris) e podem se aderir a outras estruturas oculares (como endotélio da córnea, cristalino e íris) ou, então, flutuar livremente na câmara anterior do olho (Figura 8) (22,23). Em alguns casos em que a membrana pupilar persistente se adere ao endotélio corneano, podem surgir opacidades na córnea, secundariamente à persistência da membrana pupilar, causando tração do endotélio, o que resulta no aparecimento de edema focal da córnea (19). O diagnóstico das membranas pupilares persistentes baseia-se no exame físico e na diferenciação entre membrana pupilar persistente verdadeira e sinéquia secundária a outras doenças oculares. O local de origem dos filamentos pigmentados no colarete da íris e a ausência de outras anomalias oculares sugestivas de doença ocular prévia são indicativos de membrana pupilar persistente verdadeira. Embora o tratamento normalmente não seja necessário, as opções terapêuticas (se requeridas) incluem midriáticos tópicos e transecção cirúrgica (3).  

Cistos uveais

Os cistos da úvea anterior são um achado incomum em gatos e podem ser o resultado de um defeito congênito em que não ocorre a adesão correta das camadas do cálice óptico. Esses cistos também podem ocorrer de forma espontânea ou secundariamente a lesões oculares (24,25). Os cistos uveais podem ser observados em um ou ambos os olhos; eles costumam ser esféricos e pigmentados, podendo se apresentar como cistos únicos ou múltiplos de vários tamanhos em qualquer local ao longo da margem pupilar posterior (24). A maioria dos cistos uveais anteriores geralmente não requer tratamento, mas a cirurgia com fotocoagulação a laser pode ser considerada se eles forem grandes e provocarem problemas secundários (como obstrução da visão ou aumento da pressão intraocular) (26).

Doença do cristalino

As cataratas são opacidades focais ou difusas do cristalino e, nos gatos, podem ser de origem congênita ou adquirida. As cataratas podem ser facilmente identificadas pelo exame visual, mas um exame oftalmoscópico detalhado também pode ser necessário para detecção (Figura 9). Em um recente estudo retrospectivo de uma série de casos, verificou-se que 15% dos gatos encaminhados a algum oftalmologista veterinário para avaliação de cataratas apresentavam catarata de origem congênita (27). Apesar de serem menos frequentes em gatos que em cães, as cataratas congênitas já foram relatadas nas raças Sagrado da Birmânia, Himalaio, Persa e Britânico de Pelo Curto e podem estar associadas a um modo de herança.
 
Figure 9. Congenital/hereditary cataracts in a 2-year-old Domestic Shorthair cat (left) and 4-year-old Domestic Shorthair cat (right). Note the varied appearance of opacification of the lens and disruption of the fundic reflex. © Elena Fenollosa Romero CertVOphthal MRCVS, ECVO resident DWR, United Kingdom
Figure 9. Congenital/hereditary cataracts in a 2-year-old Domestic Shorthair cat (left) and 4-year-old Domestic Shorthair cat (right). Note the varied appearance of opacification of the lens and disruption of the fundic reflex. © Elena Fenollosa Romero CertVOphthal MRCVS, ECVO resident DWR, United Kingdom

Há relatos de cataratas de desenvolvimento em filhotes felinos criados manualmente com uma fórmula láctea comercial (sucedâneo do leite); possivelmente, tais cataratas incipientes estavam relacionadas com as baixas concentrações séricas de arginina durante esse período de alimentação (28). Assim, fatores ambientais também podem desempenhar um papel importante no surgimento de catarata desde tenra idade.

A síndrome de Chediak-Higashi é um distúrbio autossômico recessivo hereditário que pode se apresentar com cataratas congênitas, bem como com íris pálidas, fotofobia, hipopigmentação do fundo ocular e degeneração do tapete (29)

No gato, o tratamento de cataratas depende da gravidade do quadro. Se a catarata gerar uma doença secundária, pode-se considerar a facoemulsificação (3)

Doença retiniana


Displasia da retina

A displasia da retina é uma malformação congênita dos tecidos retinianos normais. O aspecto dessa displasia pode ser caracterizado pelo pregueamento da retina ou formação de roseta. As causas de displasia da retina incluem o Vírus da Leucemia Felina e o Vírus da Panleucopenia Felina, embora também possa ser observada juntamente com outros distúrbios oculares congênitos, como colobomas das pálpebras e síndrome de Chediak-Higashi (3).
 

Referências

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Thomas P. Large

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Thomas Large graduated from the University of Nottingham School of Veterinary Medicine and Science in 2015 and has been a practicing small animal veterinary Leia mais

Ben T. Blacklock

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Ben Blacklock se formou na University of Bristol em 2009 e passou seus primeiros anos em uma clínica mista e movimentada em Lancashire. Leia mais

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